A dúvida
O grande problema da dúvida é que você nunca, por nada nesse mundo, vai saber como teria sido se você tivesse escolhido aquilo que não escolheu.
Por exemplo, se você resolve casar com o Jorge ao invés do José, nunca vai saber como teria sido se tivesse apostado no outro. Mesmo que, por uma ironia do destino, a sua vizinha venha a ser a Sra. José e pela proximidade geográfica você saiba que ele engordou 60kg e bate nela de vez em quando, isso não quer dizer que teria sido assim se a Sra. José fosse você. Pode até servir de consolo. Qualquer ser humano minimamente normal pensaria “Ufa! Ainda bem que eu escolhi o Jorge! Já pensou se eu tivesse casado com esse traste do José?”. É justo. É reconfortante. Mas não é verdade. A verdade é que a gente só se diz isso para tentar acalmar aquele bichinho lá dentro. Aquele bichinho que sabe que nunca vai saber.
Esse bichinho tem a perfeita noção de que se você tivesse casado com o José pode ser que hoje ele fosse extremamente carinhoso porque nunca engordou e que nunca tivesse engordado porque:
1. você cozinha mal
2. vocês trepavam muito e bem, o que significa que ele faria muito mais exercício.
3. na verdade ele só engordou e ficou violento porque você trocou ele pelo Jorge. (Adoro como os devaneios são sempre tão auto-centrados)
Ou não.
Outro exemplo. Você vai no restaurante e não sabe se pede a carne ou o peixe. Você pede o peixe. Seu amigo pede a carne. Linda, macia, daquelas que derretem na boca. Você pensa, eu devia ter pedido a carne. Mas a verdade é que a sua carne poderia ter passado do ponto. O seu arroz poderia ter vindo com um fio de cabelo do cozinheiro. Saber, como a gente sabe que 1 + 1 são 2, não dá para saber. E ainda: se você tivesse pedido a carne, mesmo que ela tivesse vindo muito boa, mas muito boa mesmo, você automaticamente perderia o direito de saber se o peixe estava melhor.
Não é a dúvida que é cruel.
Cruel é não saber como teria sido se tivesse sido de outro jeito.
5 Comments:
Olha Aline, digamos que eu seja o João e ela casou com o FDP do José. E tenho certeza que aqui do lado de cá ela seria bem mais feliz.
Olá, gastón.
Deve ser bom ter certeza...
Por isso é que, quando compro um sapato específico que tava precisando, por exemplo, eu fico um tempão ser ir em lojas de calçados.
Vai que eu acho um mais bacana, ou um tão bacana quanto só que mais barato... Escolher é sempe dificil, não dá pra não pensar no que foi deixado pra trás.
Mas como diria a bisa da minha filha, aos 95 anos, todos os proveitos não cabem num saco só!
Cláudia,
Adorei a frase da sua avó! E obrigada pelo elogio no outro post.
; )
Estava navegando no google e parei aqui... só pra ficar com uma duvida: será que eu sou o José? Tudo bem, eu engordei 'só' 20kg e só bato na minha mulher quando ela pede, mas ainda assim é perto o suficiente para que eu possa ser ele. E daí? E daí que é muito bom ver que você está feliz com o João e está escrevendo coisas tão legais aqui no seu blog. Escolhas na vida, a gente faz todos os dias e mesmo as mais simples podem mudar tudo de forma profunda e definitiva, então, não se deixe consumir pela duvida do que poderia ter sido, e sim viva plenamente o que está sendo (que me parece, você está fazendo bem). Se eu fosse realmente o seu José e você estivesse comigo agora, o que eu estaria te dizendo é que você continue escrevendo mais e mais e que comece a sonhar em escrever um conto, um livro... fica aí minha sugestão... No mais, obrigado por ter me deixado essa 'dúvida' de poder ser o seu José... É bom saber que nós, os Josés, somos lembrados as vezes e que não ficamos apenas como uma presença incômoda nas fotos antigas... ;-)
Post a Comment
<< Home