Sem título
Hoje estou me incomodando.
Fico no meu caminho, me atrapalho, largo o pé para me fazer tropeçar. Escolhi esta roupa de propósito só para zombar de mim cada vez que me vejo no espelho. Passei o dia me cutucando, o dedo indicador rijo me espetando. E ainda são só três horas.
Quero desesperadamente ir para bem longe de mim. Justo hoje que não tenho condições de lembrar o quanto sou fraca e burra, passo o dia sussurrando para a minha consciência como sou fraca e burra. E não é só falar por falar. Dou exemplos, comprovo a teoria. Como é fácil fazer gato e sapato de mim.
Pelo menos nisto sou competente. Executo perfeitamente esta tarefa de me atravancar. Meu estômago compactua e se embrulha. O gosto na minha boca hoje acordou amargo. E não melhorou nada nem com o tempo, nem com a pasta de dentes.
Não, não estou me aguentando.
Estou presente demais em mim. Sim, é possível que dois corpos ocupem o mesmo espaço. Mas garanto – e garanto com terrível certeza – que a convivência dos dois não é em nada agradável. Se empurram e se espremem. Nenhum vence. Os dois perdem. Eu fico exausta.
Talvez seja isto o mau humor: não se suportar e descontar nos outros. É egoísta? Pode ser. Mas não menos do que o bom humor que, por oposição, não é mais do que despejar em quem está por perto uma dose de adoração por nós mesmos.
Está explicado porque o bom humor pode ser tão irritante. E comprovado que os antônimos têm muito em comum.
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