Japão – Capítulo 2 - Os templos
Antes das seis da manhã estávamos acordados. Faz parte da experiência de dormir num templo. Os hóspedes são convidados a participar da cerimônia religiosa diária. Faz frio já que estamos no alto de uma montanha – Koyasan – um dos lugares mais sagrados do Japão, centro do Budismo Sheigon. Nos vestimos apressados e somos os primeiros a chegar. Um monge ainda termina de arrumar os últimos detalhes. Os outros hóspedes vão se juntando a nós. Éramos oito. Ajoelhamos no chão sentados sobre os calcanhares, olhando para os cinco monges (um no centro, de manto roxo, e os outros em volta dele, de manto laranja), nenhum deles de frente para nós. O cheiro de incenso, o cântico hipnotizante, o soar do tambor, a maneira como os japoneses mantém uma postura ereta (muito diferente da nossa cabeça baixa e corpo curvado durante toda a missa), tudo traz uma energia muito boa e uma paz muito grande.
Depois das orações, o monge que conduziu a cerimônia (o de roxo) diz algumas coisas em japonês (algumas engraçadas pela reação das outras pessoas) e faz um sorteio. Tínhamos recebido umas senhas na noite anterior e mostramos nossos papéis para um senhor ao nosso lado para descobrir que meu marido tinha sido sorteado. Ele ganha um quadrinho com alguma coisa que a gente não tem a menor idéia escrita. Todos ficam impressionados, fazendo uma certa reverência para aquele que recebeu o que nos pareceu ser um esperado sinal de boa sorte (ufa).
É aniversário do meu marido. Tentamos contar para as pessoas, mas parece que ninguém entende. Deixamos para lá, felizes com o presente, e seguimos o monge escada abaixo para andar sobre saquinhos de pano cheios de areia, cada um com uma palavra (ou seria frase?). Mais um ritual que eu não entendia, mas que me fazia sentir bem, não sei bem porquê.
Ainda tentamos puxar conversa e descobrir exactamente o que estava escrito naquele quadrinho. Conseguimos apenas confirmar que era boa sorte. Antes de ir embora da cidade, passamos no Centro de Informações e, já que eles falam inglês, insistimos numa tradução. O homem confabula com um colega e depois liga para o templo. Anota algumas coisas numa folha de papel e pesquisa na internet. O resultado foi “você, a natureza, o ambiente, tudo está não-escondido, revelado”. OK. Se é para trazer boa sorte está ótimo pra gente.
Ficar hospedado no Henjosôn-in foi uma das melhores experiências da viagem. Mas a quantidade de templos (budistas) e santuários (xintoístas) que aparecem na frente de um turista no Japão é enorme. Tem uma hora que cansa. Meu marido cansou primeiro, é verdade. Desisti de ir a Nikko ou Kamakura (pretendia visitar uma das duas cidades perto de Tóquio até o fim da viagem). Mas alguns dos templos realmente valeram a visita. São eles:
- Senjo-in (Tóquio): Foi o primeiro que visitamos, onde aconteceu a história da fortuna. O templo é muito bonito e a rua que se pega para chegar lá, Nakamise-Dori, tem deliciosas lojinhas para comprar artesanato e provar biscoitos de arroz ou o doce em forma de passarinho, recheado de feijão.
- Okuno-in (Koyasan): Na verdade é um cemitério, onde no fim está o templo dedicado ao fundador de Koyasan e do Budismo Shingon, que está ali em “eterna meditação”. O passeio pela parte do cemitérios dentro da floresta é mágico. Se você estiver andando entre tumbas de mármore e não de pedra, e sem árvores sobre a sua cabeça você está na entrada nova, o que tira todo o encanto do passeio. Vale a pena voltar e passar pelas 3 pontes que levam a sala das lanternas, onde ficam milhares de lanternas acesas em honra dos mortos. Por uma pequena fortuna, você pode comprar uma lanterna e dedicar a alguém. Dizem que duas estão acesas desde a idade média. Atrás da sala das lanternas está o mausoléu. No lado esquerdo, antes do hall das lanternas, fica uma pequena cabine com uma pedra dentro. Supostamente, a pedra tem o peso dos seus pecados. Meu marido achou mais leve do que eu. Prefiro pensar que é porque ele é mais forte.
- Kyomizu-dera (Quioto) – Na disputa pelas novas maravilhas do mundo, este templo também fica entre árvores, no alto de um morro, com vista para a cidade. A sua arquitetura é famosa por causa dos grandes pilares de madeira que seguram a varanda. Do Pagode, entre as árvores, tem-se uma bela vista da construção e impressiona saber que os pilares não têm nenhum prego. Na saída, paramos no restaurante que vende noodles e disputamos umas das mesinhas do lado de fora, com vista um lado para as árvores, no outro para a fila de gente querendo beber a água pura (kyomizu-dera quer dizer templo da água pura). Atrás do templo principal, fica um templo menor, dedicado ao amor. É divertido ver hordas de adolescentes de mini-saia rezando com vontade para encontrar a cara-metade. Dizem que se você consegue andar de olhos fechados entre as duas pedras que estão ali, com certeza a encontrará. Na saída, reparei nos preços dos talismãs. O que ajuda a ter uma segunda chance na vida amorosa custava o dobro do preço dos outros. Mas tenho certeza que os corações despedaçados pagam sem pestanejar.
- Sanjusangendo (Quioto) – Por fora, o edifício de madeira mais comprido do mundo não tem nada de especial em relação aos outros templos. Mas as 1001 estátuas douradas da deusa da misericórdia enfileiradas do lado de dentro me conquistaram. A estátua central, com mil braços, também impressiona. Ali, escrevi meu nome e um pedido num pedaço de madeira para ser queimado numa cerimônia. Diz-se que a Kanon perdoa os seus pecados e atende ao seu pedido. Agora é esperar para ver.
- Santuário Meiji (Tóquio) – Destruído na 2ª Guerra Mundial, foi reconstruído com madeira doada pelos cidadãos. Fica numa área arborizada, perto de um parque e da ponte onde os jovens fantasiados se reúnem aos domingos, no moderno bairro de Harajuko. Por isso mesmo é um choque. Principalmente porque tive a sorte de presenciar um casamento. Junto com muitos outros turistas, contemplei os noivos e convidados que se preparavam para a foto oficial. Ali, vendo o fotógrafo ajeitar o vestido da noiva, percebi como viajei no tempo em apenas dez minutos de caminhada.
Estes foram os que eu mais gostei, dos poucos que vi. Poucos porque são muitos. Só em Quioto são mais de dois mil. Para os que vão ter a oportunidade de visitar alguns deles pela primeira vez fica a dica. Na entrada, lave as mãos e a boca para se purificar. Encha a panelinha de água, lave primeiro a mão esquerda e depois a direita. Coloque um pouco d’água na mão esquerda e lave a boca e, se quiser, o rosto. Não beba direto da panelinha. Depois deixe o resto da água cair na direção do cabo e coloque-o de volta no lugar.
2 Comments:
Que aula bacana que você me deu. Eu queria muito conhecer o Japão (ok: eu, a torcida do Flamengo e o Zico junto).
Ps.: exactamente, lusitâna? rs
Good post.
Post a Comment
<< Home