Hoje eu acordei com vontade de escrever

Wednesday, November 15, 2006

Algumas coisas bonitas

Que a vida não é fácil todo mundo está cansado de saber. Mas apesar de tudo (não vou aqui explicar tudo porque tudo é uma coisa muito pessoal e o meu tudo provavelmente não tem nada a ver com o seu) a vida é boa. Outro dia vi um filme destes que fazem a gente lembrar disso. Um filme bonito (não consigo pensar em outra palavra) sobre uma família para lá de descompensada. Exageradamente real, tragicamente engraçado, Little Miss Sunshine* encheu meu coração de coisa boa. Sabe quando parece que o seu coração de repente ocupa mais espaço dentro do peito? Não confundam com coração apertado. Coração apertado é quando todos os outros órgãos parecem ocupar mais espaço de modo que o seu o coração seja espremido, ou seja, exatamente o contrário. Não sei explicar bem porquê, mas saí do cinema com meu reservatório de otimismo recarregado e com pena de não poder agradecer pessoalmente ao produtor, ao roteirista, ao diretor e aos excelentes atores por terem feito aquele filme. Recomendo que vejam.

Tudo isto me faz lembrar de um livro que eu tive a sorte de descobrir antes de ser o número um na FNAC. Tenho muita implicância com livros que são número um na FNAC e se lá ele estivesse quando o comprei, não o teria levado para casa. E se não o tivesse levado para casa, não teria rido alto sozinha no Il Cafe di Roma, nem chorado baixinho sozinha no trem. Nem teria me apaixonado de novo pelo meu cachorro. E por todos os cachorros. E pelos filhos que ainda vou ter. Porque Marley e Eu é um destes livros que você termina melhor do que começou. Um livro bonito, que eu fechei com meu reservatório de otimismo renovado e cheia de vontade de conversar com o John Grogan e coçar atrás das orelhas do Marley. Recomendo que leiam.

E por falar destas coisas que nos lembram do lado bom da bida (não é erro de ortografia, é inside joke aqui de Portugal), me deu uma vontade de ouvir e cantar desafinadamente uma música que está tocando bastante na rádio do Brasil. Se chama Tranquilo, da Thalma de Freitas. Achei uma música, como eu posso dizer, bonita. Destas que fazem bem e recarregam o reservatório. (Quanto a encontrar com ela pessoalmente já tive a oportunidade, no Bairro Alto, e digamos que passei uma certa vergonha. Mas essa é uma outra história.) Recomendo que ouçam, de preferência pela manhã, para começar o dia com fé nele.

Não esperem demais destas minhas recomendações. Seria como esperar demais de um prato de macarrão, que só é tão bom porque é simples, despretencioso e confortável, além de estar sempre ao nosso alcance.


* Em Português aqui de Portugal, o filme sofreu um atentado com o título de Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos. Não sei se tenho mais pena das pessoas que perderam o filme por causa do nome e ou das que foram assisti-lo por causa dele.

Monday, November 13, 2006

Rio de Janeiro x Eu

O Rio tem o Cristo Redentor, mas sou eu que tenho fé.

O Rio tem a Lagoa, mas sou eu a dona da bicicleta.

O Rio tem a Baía de Guanabara, mas fui eu que saí para velejar.

Sejamos justos: o Rio tem a maior concentração de cartões postais por metro quadrado.
Mas estes dois olhos são todos meus. São sim, foi Deus quem me deu.

O Rio tem o melhor bife com arroz e feijão, mas sou eu que tenho o gosto preso na língua.

O Rio tem a água de coco, mas a sede é toda minha.

O Rio tem o chopp gelado, mas sou eu que peço mais um, por favor.

O Rio tem gente fina, mas, me desculpem, quem tem os melhores amigos sou eu.

O Rio tem graça, mas eu tenho o senso de humor.

O Rio tem defeitos, mas sou eu que tenho a crítica. Ah, se tenho.

O Rio tem canções e mais canções em sua homenagem, mas ninguém as desafina como eu.

O Rio tem a areia branca. Entretanto, contudo, todavia, os dez dedos que afundam nela são meus.

É verdade, o Rio tem o mar e ele é enorme. Mas sou eu que tenho as lembranças da praia num dia de férias, no verão.

O Rio tem a casa onde eu cresci, mas a mãe é só minha.

O Rio tem cheiro de maresia, mas sou eu que tenho o nariz.
Já sou dona dele há um bom tempo.

O Rio tem gingado, mas sou eu que sei dançar. Sei sim, já me disseram.

O Rio tem o sol, mas é no meu rosto que ele esquenta.

O Rio tem as chuvas, mas, eu garanto: são na minha cara que os pingos caem.

O Rio, podem pensar, tem tudo. Só não tem a mim.
E sou eu que tenho o buraco no peito de saudade.