Hoje eu acordei com vontade de escrever

Monday, February 18, 2008

Agora eu sou dois

Agora eu sou dois. Meu corpo muda tanto que meus órgãos parecem querer ir embora. A fome vem com jeito de enjôo. A felicidade vem com vontade de ficar quieta.

Shiii. Silêncio.

Eu, imóvel tentando ouvir você crescer em mim. Eu, com medo, tentando sentir que está tudo bem. Tentando pensar que sou um bom ninho. Ou casulo. Ou casa. E você sugando as minhas forças, meu humor, meu sentido de realidade para fazer crescer a pele que vamos acariciar, a boca que vamos alimentar, os olhos que vão ver o mundo de um jeito que vamos ter que ensinar.

Penso em Deus.

Penso em Deus porque não poderia acreditar que posso fazer isso sozinha. Seria poder demais, responsabilidade demais, força demais para um ser humano.

Ser humana.

Me sinto mais mulher do que nunca. Não super mulher, não confundam. Me sinto mulher inteira e de verdade, mas pequenininha diante de tudo que vai acontecer. De tudo que vai mudar. Das coisas que não vou ser capaz de mudar.

Um coração batendo dentro de mim e não é o meu.

Choro e entendo. Entendo que os homens não poderiam gerar uma vida porque se sentiriam magnânimos, capazes de tudo. Enquanto eu mal me sinto capaz de levantar da cama, de comer os legumes que te fazem bem, de não comer o chocolate que te faz mal.

Mal me sinto capaz de escrever porque sei que não vou encontrar as palavras certas. Não vou organizá-las na ordem correta. Não vou fazer quem lê estas linhas entender tudo o que eu sinto. Um turbilhão em câmera lenta dentro do meu coração, como se o furacão tivesse a noção de que na velocidade normal te acordaria, te incomodaria, te assustaria.

Shiii. Silêncio.

Agora eu sou dois e cada passo, cada pensamento, cada alimento interferem em você. Quero ser só amor, mas sou humana e volto a pensar em Deus.

Também penso em nós dois. Agora você, meu amor. Que me amava desde que eu era só um. Que me amou tanto que me fez dois. Que me ama muito agora, meio feliz, meio desconfiado, meio com medo de quando seremos três. Na verdade quatro, com o cão de pernas curtas que nos fez sentir uma família pela primeira vez .

Seremos quatro, nunca tão felizes como um comercial de Margarina. Aquela felicidade falsa, insossa, pasteurizada. Teremos a nossa felicidade inconstante, recheada de incertezas.

Se tivéssemos certeza, não seria preciso acreditar. E enquanto acreditamos na mesma coisa – nós dois, nós três, nós quatro – mesmo nos dias tristes, eu vou saber que sou feliz.

Shiii. Silêncio.

Agora eu sou dois. Em breve seremos três. Tenho medo de nunca mais ser só eu. Mas tenho mais medo ainda de ser qualquer coisa menos do que nós, juntos.