Hoje eu acordei com vontade de escrever

Wednesday, July 26, 2006

Um cachorro feliz

Ela sobe a rua e balança as chaves para eu saber que ela já está lá. Corro até a varanda para ver ela chegar. Fico tão feliz que não sei se pulo ou se choro, então faço os dois ao mesmo tempo. Ela abre a porta e quase cai com o meu peso em cima dela. Me faz carinho até eu me acalmar. Entra em casa e eu vou derrapando atrás dela. Agora já não desgrudo. Me deito aos seus pés por um tempo. Depois arrisco ir pegar uma bola para ver se ela quer brincar. Quando ela quer, meu dia está feito. Finge que joga a bola. (Ela sempre finge que joga primeiro, só pra me provocar.) Depois joga e eu vou lá buscar. Trago de volta esbaforido, mas não deixo ela pegar. Ficamos assim por algum tempo e começamos tudo de novo. Ela me olha como quem não entende como é que tanta felicidade pode vir de uma bola. Eu olho para ela como quem não entende porque ela parou de brincar. Deito com o rosto entre as patas e suspiro. Ela me convida para passear. Aceito, é claro. Desço as escadas correndo e volto, insistindo para ela se apressar. Ando sentindo todos os cheiros que há para sentir. Vou na frente, mas sempre paro para ver se ela ainda está lá. E ela sempre está. Sorrio e volto a andar. Quando dou por mim, estamos em casa outra vez. Lá se foi a melhor parte do meu dia, mas tudo bem. Amanhã tem mais. Subo doido para entrar em casa, mas ela insiste em me limpar. Finjo que não é comigo mas não adianta. Lá vem ela esfregar aquele lencinho com cheiro de bebê nas minhas patas e em outros lugares humilhantes demais para eu falar. Dever cumprido. Bora lá beber água. Enfio o focinho na tigela de água fresca e jogo água pelo chão só para pisar em cima e deixar marcas da minha pata no chão da cozinha. Ela me pergunta “Tá com fome?” e já sei que chegou a outra melhor hora do meu dia. Respondo lambendo minha própria cara e ela enche a tigela de comida. Às vezes como tudo, às vezes guardo um pouco pra mais tarde. Depois vou limpar o focinho no tapete ou no sofá. Ela já está lá, esparramada, assistindo TV. Aproveito para me aconchegar. Ela coça atrás das minhas orelhas. Me derreto todo e viro de barriga para cima, como quem diz “Vai... Coça a minha barriga também.” Ela segura o meu focinho para conseguir me dar um beijo sem levar uma lambidela na cara, olha nos meus olhos e diz: “Como é que eu posso amar tanto um cão?” Eu olho para ela e penso: “Como é que eu posso amar tanto um ser humano?” Depois fecho os olhos e aproveito para tirar um cochilo, que dá um bocado de trabalho ser um cachorro feliz.

Quantas horas?

Quantas horas tem o dia de uma mulher que dorme tudo o que precisa dormir e acorda com tempo e disposição para gozar antes de te dizer “bom dia”? Quantas horas tem o dia de uma mulher que levanta, arruma a cama, compra pão e queijo minas e põe a mesa do café? Quantas horas tem o dia de uma mulher que toma um bom banho morno, enrola a toalha na cabeça e passa todos os cremes que deve passar? Quantas horas tem o dia de uma mulher que acorda as crianças com um beijo, penteia seus cabelos e as entrega na porta da escola? Quantas horas tem o dia da mulher que tem um bom emprego, um bom salário e faz tudo o que tem que fazer, como acha que deveria fazer, e é reconhecida por isso? Quantas horas tem o dia da mulher que almoça num lugar bacana com duas grandes amigas? Quantas horas tem o dia da mulher que vai à academia, compra flores pra casa e escolhe com cuidado um presente? Quantas horas tem o dia da mulher que experimenta, que erra, que tenta de novo, que dá o seu melhor? Quantas horas tem o dia da mulher faz curso de cerâmica, francês e roteiro de cinema? Quantas horas tem o dia da mulher que leva o cachorro no parque, senta no banco e folheia uma revista ou bate papo com uma velhinha que lembra a sua avó? Quantas horas tem o dia da mulher que tem almofadas coloridas no sofá, fotos de viagem nas paredes e a geladeira sempre cheia? Quantas horas tem o dia da mulher que faz pé, mão, meia-perna, virilha, sobrancelha e massagem anti-celulite? Quantas horas tem o dia da mulher que consegue ficar sozinha e não fazer nada, nem falar nada, por algum tempo? Quantas horas tem o dia da mulher que ouve com atenção como foi o dia das pessoas que importam para ela? Quantas horas tem o dia da mulher que prepara um jantar enquanto toma uma taça de vinho? Quantas horas tem o dia da mulher que tem tempo de arrumar a cozinha depois? Quantas horas tem o dia da mulher que sai para tomar chopp com uns amigos e chora de rir de uma piada sem graça? Quantas hora tem o dia da mulher que fala no telefone com as pessoas que tem saudade? Quantas horas tem o dia da mulher que ainda tem uns minutos para te fazer cafuné? Quantas horas tem o dia da mulher que vê todos os filmes que quer ver, lê todos os livros que quer ler e ainda escreve tudo o que precisa escrever? Quantas horas tem o dia da mulher que eu queria ser?

Friday, July 21, 2006

Muito prazer, essa sou eu.

Odeio meu cabelo descontrolado, meus dentes grandes, meu peito pequeno, minha perna fina, minhas roupas, todas velhas. Amo a cor dos meu cachos no sol, meu sorriso aberto, meu peito que ainda fica em pé sem sutiã, minhas pernas compridas, minha calça mais velha que deixa a
minha bunda linda. Sei que sou inteligente, mas me acho burra. Me acho bonita, mas sei que não sou. Gosto que me toquem. Tanto que faço
carinho em mim. Adoro beijo com gosto de cerveja. Não gosto de beijo com gosto de cigarro ou mate. Nem de beijos com bico. Prefiro o sexo de manhã ou no meio da tarde, com a luz do dia. Presto atenção em letras de música, porque sei que de vez em quando elas falam comigo. Gosto quando o Chico e o Camelo falam comigo. Tenho todas as loucuras que só uma mulher sabe ter. Angústias escondidas que aparecem do nada de trás da parede só para me dar um susto quando eu jurava que estava
feliz. Aquela certeza repentina de que a coisa mais estúpida do mundo deve ser feita e tem que ser agora, não pode esperar até a razão
voltar. Também tenho outras loucuras só minhas, algumas que não conto nem para mim. Não gosto das pessoas. Mas gosto muito de algumas pessoas. Nem sempre tenho paciência para elas e peço desculpas. Acho os homens mais divertidos do que as mulheres. Gosto das piadas sujas e da maneira prática como vêem a vida. De como ficam felizes com um copo de chopp na mão. Da sinceridade que falta às mulheres. Estas sempre tentam parecer melhor do que são. Então são sempre piores do que parecem. Acho que sei mais da vida do que as outras pessoas. Isto eu herdei da minha mãe. Mas não sei muito de mim. Tem dias que acho que seria mais feliz batendo bolos e cozinhando compotas de morango para uma penca de filhos. Uns parecidos comigo, outros parecidos com você.
Te amo tanto que às vezes me cansa. Mas o cansaço sempre passa e te amo mais. Ficaremos juntos para sempre. Mesmo que o para sempre seja só uma esperança, sei que é uma esperança de nós dois. E isto me basta. Adoro rir, mas também gosto de chorar. Confesso, me alivia a
alma. Detesto ficar histérica. Já faz tempo que não fico, ainda bem. Sei que poderia fazer melhor do que faço, mas tenho preguiça. Como mais do que devo, sou um pouco pão-dura. Teimosa também. Existem defeitos piores e eu devo tê-los, mas não me lembro nenhum agora.
Discordo de muita coisa e de muita gente. Provavelmente discordaria de você (se já não descordei). No último ano, estive em mais lugares do que podia imaginar, mas estive pouco tempo com um monte de gente que sente minha falta. Fico feliz que sintam a minha falta. Gosto de escrever. Gosto de pensar que escrevo bem. Não gosto que saibam da minha vida, mas estranhamente não calo a minha boca.

Por que diabos eu criei um blog?

Não sou muito de blogs. Não sei muito bem o que fazer com um. Penso neste blog como um espaço para colocar algumas coisas que eu escrevo. Nem sei se alguém vai ler. Nem se sei se isto interessa. Talvez me obrigue a escrever mais. Talvez seja uma maneira de guardar o que eu escrevo. Talvez seja um pedido de atenção. Talvez não seja nada demais. Vai saber.