Hoje eu acordei com vontade de escrever

Tuesday, August 01, 2006

Saudade

Foi bom ter a casa só pra mim de novo. Escrevi umas besteiras no computador. Morri de chorar vendo Walk the Line no DVD. Tomei água do gargalo. Fui no banheiro com a porta aberta. Dormi sem roupa.

Mas essa sensação já, já passa. Fica a saudade. Saudade de ter por perto uma amiga como poucas, daquelas que a gente ri junto sem motivo nenhum. Saudade da cara de safado do meu afilhado, dos beijos babados e de como a cada dia ele dizia melhor o meu nome. (Foi no último dia que senti ele mais próximo, fazendo “brrrr” na minha barriga e se divertindo com o fato de realmente me fazer sentir cócegas). Saudade de como nossos maridos se dão bem e de que como com vocês por perto tudo parece tão casa, tão confortável. Saudades que não passam nem com mil skypes, como ela escreveu no bilhetinho escondido que deixou na caixa dos meus óculos.

Têm sido dias difíceis. A morte da minha avó mexeu muito comigo. A gente se afasta de quem gosta, se acostuma com a distância e quando descobre que nunca vai poder dizer o quanto essa pessoa é importante, sente que perdeu muito tempo precioso fazendo coisas tão irrelevantes quanto ler as notícias no Blue Bus ou reclamar da vida.

Minha avó foi uma avó no melhor sentido da palavra. O queijo quente sem casca cortado em quatro, a música que ela fez pra mim (Aline, Aline, Aline Macarrão), os nossos jogos de buraco (foi minha avó quem me iniciou no vício de jogar cartas), o leite de colônia que ela passava no meu rosto e me deixava impressionada com quanta sujeira ficava no algodão (aquilo era como passar álcool na pele!), as embalagens vazias que ela guardava para eu brincar, os bonequinhos com ímã que se beijavam quando chegassem perto. Pensar na Vó Laurita é como dar corda numa caixa de música que toca as lembranças mais gostosas da minha infância.

E eu, estúpida, nunca disse isso a ela. Nunca disse que mesmo no Rio, já adulta, pensava que se ela estivesse perto ia passar na padaria para comprar pão quente e depois ir lá para lanchar. E eu, estúpida, vim morar em Lisboa sem encontrar tempo para ir a Brasília me despedir. E eu, estúpida, liguei pouco, escrevi pouco, falei pouco. Podem dizer que não, mas tenho certeza que minha avó se foi sem ter idéia de tudo o que significou para mim e de quanta saudade deixou. Só me resta acreditar que agora ela esteja em algum lugar onde possa se ver pelos meus olhos. Ela se veria com imenso carinho.

Ao que parece, assim como na música da Amália Rodrigues, “a minha canção é saudade”. Menos mal que só sentimos saudades de coisas boas. Hoje, especialmente, de uma amiga espetacular e de uma avó maravilhosa.

Termino com um beijo para as duas.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Que pena! Eu nao sabia que a D. Laurita havia falecido. Lastimavel...
Ainda ta' em tempo pra dar atencao aos que continuam por aqui. A outra avo recalama sempre, como sempre, que nao ha anos nao tem noticias suas. Ainda ha tempo...

mil beijos,
mago

8:21 AM  
Anonymous Anonymous said...

Lindinha, nós somos egoístas por natureza. Não se culpe ou se martirize por não ter dado mais enquanto sua vovozinha estava aqui pertinho... A vida nos força a isto, e o pior, só nos damos conta quando não há mais nada a fazer...

Você é especial e ela certamente sabia disto.

grande beijo, Mirian

6:58 AM  

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