O grande problema da dúvida é que você nunca, por nada nesse mundo, vai saber como teria sido se você tivesse escolhido aquilo que não escolheu.
Por exemplo, se você resolve casar com o Jorge ao invés do José, nunca vai saber como teria sido se tivesse apostado no outro. Mesmo que, por uma ironia do destino, a sua vizinha venha a ser a Sra. José e pela proximidade geográfica você saiba que ele engordou 60kg e bate nela de vez em quando, isso não quer dizer que teria sido assim se a Sra. José fosse você. Pode até servir de consolo. Qualquer ser humano minimamente normal pensaria “Ufa! Ainda bem que eu escolhi o Jorge! Já pensou se eu tivesse casado com esse traste do José?”. É justo. É reconfortante. Mas não é verdade. A verdade é que a gente só se diz isso para tentar acalmar aquele bichinho lá dentro. Aquele bichinho que sabe que nunca vai saber.
Esse bichinho tem a perfeita noção de que se você tivesse casado com o José pode ser que hoje ele fosse extremamente carinhoso porque nunca engordou e que nunca tivesse engordado porque:
1. você cozinha mal
2. vocês trepavam muito e bem, o que significa que ele faria muito mais exercício.
3. na verdade ele só engordou e ficou violento porque você trocou ele pelo Jorge. (Adoro como os devaneios são sempre tão auto-centrados)
Ou não.
Outro exemplo. Você vai no restaurante e não sabe se pede a carne ou o peixe. Você pede o peixe. Seu amigo pede a carne. Linda, macia, daquelas que derretem na boca. Você pensa, eu devia ter pedido a carne. Mas a verdade é que a sua carne poderia ter passado do ponto. O seu arroz poderia ter vindo com um fio de cabelo do cozinheiro. Saber, como a gente sabe que 1 + 1 são 2, não dá para saber. E ainda: se você tivesse pedido a carne, mesmo que ela tivesse vindo muito boa, mas muito boa mesmo, você automaticamente perderia o direito de saber se o peixe estava melhor.
Não é a dúvida que é cruel.
Cruel é não saber como teria sido se tivesse sido de outro jeito.